segunda-feira, 19 de maio de 2014

Alucinação


A solidão, a solidão que alucina
No pio de uma coruja curiosa
Alucina, alucina em minha alma
Nos dois olhos de mel no negrume
Lago, pântano, pantanal, lágrimas,
Outono primeval.

Andando quilômetros, eternidade,
Um Sol que se fez sol no poente
Marginal, na poeira, na fumaça
Na cor de um pecado que se pôs,
E, na noite, quis e se perdeu
Em esquecimento.

Nos olhos, no olhar de ninguém,
Nas palavras que não soam sentido
E no pranto engasgado e seco,
Emoção clarividente e desgraçada
Quis abraçar um sentido ilógico
Tomou mercúrio.

Alucina, alucina em minha alma
Gente, cães, juízes, duras faces
Sem olhos, sem olhos, sem olhos,
Enquanto sonho com vida viva
Na solidão que me abraçou forte
Gozo engasgado.

Uma forma úmida, cobra tentação
Serpenteia e rasga o peito, arde,
Grita, declama ódio e odes, desordem,
Na solidão, a solidão que me alucina,
Alucina, alucina nas almas mil
Sem esperança.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Selvageria


".. and till action, lust
Is perjured, murderous, bloody, full of blame,
Savage, extreme, rude, cruel, not to trust,
Enjoy’d no sooner but despised straight,... "

Shakespeare, Sonnet 129

Dos sentimentos vis, extremos, duros
Que as almas gritam tristes odes vãos
Pelos éons, décadas, perdidos séculos,
Quais são fantasmas rudes que aqui estarão?

O gosto púrpura do enclave mouro!
Doce desejo sensual, um não
Amor que cega, sem sentido e traço,
Que destrói vidas, que s'alia à paixão.

Olhos oblíquos que incendeiam noites,
Um toque, um vício ébrio e tão terreno,
Um proibido abraço que se aceite.

Portas do céu que me levam ao inferno,
Seus lábios doces d'amor de beijos quentes,
Em mim, banhados em sangue e ódio eterno.