sábado, 11 de abril de 2015

Uma casinha na montanha


Ao lado de um lago que reflete um céu sem nuvens,
Uma casinha de madeira, um casal de velhinhos...
É outono, minha linda, acenda a lareira... Vamos...
Pego lenha lá no bosque, o cheiro da terra úmida,
Do cogumelo, do pinho, d'água corrente,
A chaleira apita, chiando, as gotas escorrendo,
Suas lágrimas descendo lentamente seu corpo.
Servido a mesa tosca, sem bolachas, sem toalha,
Porém na temperatura de um coração em paz.
Perto da temporada do salmão, no frio dos montes,
No lago que é um abraço de uma mãe carinhosa
E um devaneio de uma vida tão distante.
Um beijo de um minuano enquanto o Sol oblíquo
Vai passando devagarinho pelo horizonte.
Lua cheia que sangrou meu coração refletiu
No espelho dos meus olhos marejados,
Enquanto ruge o vento, uiva e bate nas charnecas,
Bate na cara, bate no cão e no urso, no lobo,
Bate nas lápides, nas cruzes, na capelinha,
Bate nos transeuntes de uma cidade ao norte,
Risca o rosto até enrubescer, na noite sem horas,
Quando a constelação de escorpião sorriu de volta,
Sorriu para mim, para meu pai, para meu avô,
Para minha mãe, meus irmãos, meu espírito.
Caminhei até o lago, era madrugada. Cerração.
Insone, olhei para o espelho desvanecido em névoa,
Quis me dissolver nesse abraço frio e sem memória.