segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Aracnofagia


Nesse mundo. Passo ansioso.
Olho para os cantos
Cheios de teias de aranha.
Faminto.

Nessa insatisfação,
Celebrada e regada a patê
De fobia e de fília aracne,
Lambuzo meus apêndices.

Começo lentamente.
Pantofagia desmedida:
Reificada gastrimargia.
Saboreio.

Ávido, porém avesso,
Metamorfoseio-me.
Roço meus dentes
Contra carne crua.

Movo-me em ondas.
Choque de gostos,
Beijo como sono
Indígena.

Mastigo prazer.
Chupo dedos.
Internalizo, sou
Homem octópode.

Sim! Nessa internalização,
Celebrada e regada a patê
De fobia e de fília, torno-me
Aranha.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Sobriedade Mórbida


"And as I fall in the mirror on the wall
 I'm watching me scream"

- Watching me fall, The Cure

A cortina entreaberta, a luz prata que corta
A noite que toma um corpo estendido, fitando
O caos de um quarto, o entulho acumulado
Enquanto conta um tempo esquecido nas gotas
Que, insistentes, beijam as panelas sujas.

Se contorce, num bocejo quente e grudento
Enquando toma mais um gole, mais um trago forte
De coisas amargas e embriagantes, paz engarrafada.
É café? É cerveja? É prazer no trago e na fumaça...
Sopra para a lua cheia atrás dos vidros da janela.

No chão, jogados estão os sapatos, as latas,
Papéis de alguma utilidade para o mundo lá fora
Que murmura após longas horas de espera, a começar
Pelos passarinhos cantando melodias da manhã
E pelo ruído de caminhões e pessoas no corredor...

Essas canções soam como maldição para insônes
Enquanto os olhos injetados de sangue se arregalam
Querendo um descanso não engarrafado, sem pílulas...
É café? É cerveja? É prazer no gosto ocre, na língua
Enquanto abraça o travesseiro encardido e solitário.

Somam-se noites e mais horas, disformes, dissolvidas,
Um emaranhado de consciência em um verão ansioso
Enquanto a existência cai em buracos fundos de prazer
Em um toque ardente que o fez gritar de agonia,
Mas o fez chorar muito mais quando não o tinha.

O cheiro do quarto sujo remete às suas lembranças
Do tocar e do sabor líquido de sua fugidia amante
E seu desejo se confunde com o calor dos lençóis
Na esperança de encontrar aquele corpo viciante
Perdido em algum beco, em algum lugar, não alí.

Para levantar até a geladeira, mais esforço
Sobrehumano em uma subhumanidade abraçada
Em letras tatuadas na carne, na alma, coração...
É café? É cerveja? É tinta negra escorrendo de si
Enquanto procura em vão limpa-la do travesseiro.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Uma sombra


E então ela saiu de casa.
Sozinha. Era noite.
Vagou pelo bairro deserto
Próximo.

Sentou-se na colina e observou a escuridão.

Acendeu um cigarro e as luzes
Eram brasas e alguns postes longínquos,
Pois havia chovido pela manhã
E ainda estava nublado.

Uma leve bruma pairava rente ao chão
Em uma sexta.

Soprou entre a fumaça:

"Sabe, querida, a cidade explode
Todas as sextas e sábados."
Contou a uma sombra que ali estava.

Esperou... Insistiu.

"A vida acontece somente em dois dias.
Talvez três."

Depois de um longo tempo, sorriu
E um riso de palhaço foi ouvido.

Uma coruja piou. Seus olhos desvairados,
Lanternas no escuro.
E os grilos pararam.

Uma brisa cantou uma melodia inquietante.

"No restante, só existem...
Como se chama mesmo?
Uma semana dos mortos
E algumas madrugadas dos mortos."

Silêncio.


A sombra sorriu.

sábado, 11 de janeiro de 2014

What I Need


What I need is
A place I could forget

And I just need
Peace of mind, just a rest

I watch the sun going down
All the colors turns to black

Black

I see my world, I see my town
My past won't come back

What I need is to start my reaction

I walked by fields of grains
I lost myself in the sand

I sought the dust of living
I sensed the life on breathing

What I need is a chain-reaction
What I need is a perfect connection

What I need is
A place I could forgive

I sat at the red mountains
I shot the fire over their heads

I watch the moon arise
All the colors turns to gray

Gray

I walked through the line
I am mad, yes, I'm insane

And all I can tell you is...

What I need, a perfect connection

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Some kind of evil


"He who fights with monsters should be careful lest he thereby become a monster. And if thou gaze long into an abyss, the abyss will also gaze into thee."
-Friedrich Nietzsche, Beyond Good and Evil

"If I had a heart I could love you"
- Fever Ray, If I had a heart

Some kind of evil stains my blood
In an old familiar way
Besides of not being understood
It let me goes astray
In the quiet and deep darkness
Of the lovely nights
There I am running and howling
To satisfy
The sweet scent of young bodies
Waiting for disclosure
Of ancient urges of delight
Tis my real pleasure
The addiction of gipsy eyes
Looking for my soul
As I slowly taste your sweat
Laying you low
Sucking every drop of life
As you stare me
In a fixed and cold manner
Falling on your knees
But darling, don't be afraid
As you may see
Every night you embrace me
Into the void and deep
You already worship many things
And love emptiness
In a life deprived of essence
So come and let me taste
Let us die within each other
In scarlet vanity
And give evil one more chance
Of pain and glory.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Tragōidia


Soa como uma valsa em termos pianos,
Passos ecoando em um salão parisiense.
Dois para cá, um para a direção oposta
Em sorrisos brilhantes refletindo poesia
Enquanto luzes lentas explodem no céu,
Esse salão cheio de espelhos que reluz
A ouro, reluz a alegria desmedida e reluz
Em contagens regressivas de desejos
Gritados até que não exista mais fôlego
E mais vontade de desejo que não existe.
É um beijo perdido na brisa do mar
Vagando enquanto despimos escuro
Para fogo, para incenso, para branco,
E despimos branco para nós mesmos.