quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Êxtase Escarlate

- Group Four, Massive Attack



















Nuvens tintas do sabor ácido de um beijo
Em um movimento único, rasgo-as com meu corpo
E flutuo nesse êxtase de uma raiva sensual
Enquanto sinto-as lentas, se esvanecendo...
Suas formas são minhas, seu sabor é o meu,
E sua melodia celeste é hipnótica e rodopia,
Suas notas me envolvem tal um tornado
Preto e púrpura de canções selvagens
E o fôlego é perdido quando me tomam
Enquanto vago pelo meu céu escarlate.


Imagem retirada de http://www.deviantart.com/art/Under-a-blood-red-sky-55264452 em 26/12/2013.
Título da imagem: "Under a blood red sky". Autora: hummingirl

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Poema Natalino


Sorrisos e risadas alcólicas rasgam a noite
E a comida farta na mesa posta, infarta
Farta também está a alma machucada
Largada pelas ruas e calçadas
Seus olhos de criança
De inocência roubada
Esperanças não ditas
Mas abandonadas
Em cola não bastão
Bastam para aquecer
Alguns minutos os risos
Os fogos do coração de festas
Que celebram a amizade e o amor
Compartilham pão mofado de séculos
Aceitando prazerosos papéis de algozes

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Sobre um crime e seu inevitável castigo.


"Eis o absinto e a flor"

- Martírio, Junqueira Freire.

A visão de tua face me incomoda.
O lampejo dos teus olhos me enoja.
O sussurro dos teus lábios é maldição
Que me acompanha nas horas mortas.

Tua lembrança nas noites me assombra
E o calor que emanas é fornalha.
Teu toque de deidade grega avessa
Me transforma na definição de nada.

Levo na jornada tua foto comigo
E, para mim, és meu crime e castigo
Escrito em formas dissonantes,
Inquietantes caracteres russos.

Se olho então para minha cela
No calor dum verão que atormenta
Ainda no prazer do meu sofrimento
Procuro vazio a companhia dela.

domingo, 22 de dezembro de 2013

About the lines in your face, delightful love.


"Here’s to my love! (drinks the poison) O true apothecary,
Thy drugs are quick. Thus with a kiss I die."

Romeo and Juliet, Shakespeare.

Love the beauty of youth, and yet, its decay,
Then the soft morning petals of a red rose
Falling to the ground as she slowly sways
Would seem as beautiful as your first love.

Once passion named herself as o' a bloody tone
Then she wore pale drops of a dying fragrance.
Her remembrance is engraved in her own tomb
Repeating quietly, 'life's but a glance'.

Death, the final embrace of a passing lover!
Take me slowly to the gates of a cruel bliss
As life's but a glance of nights and wonders
Which I seal with a righteous and lovely kiss.

Vazio (Dança Macabra)


Nas primeiras horas da noite
Dizem que os espíritos vagam
Perseguindo suas lembranças
Insistentes nesse despertar.

Suas lamentações são sopradas
No vento forte que fustiga
O rosto nas jornadas frias
De madrugadas ancestrais.

Seus olhos vagos miram
Algum ponto imperceptível
E murmuram devaneios
Travestidos em arrepios.

Sua pele empalidecida,
Lábios roxos entreabertos
E pernas incansáveis
Rodopiam danças fúnebres.

Vestem ainda sorrisos
Tristemente reproduzidos
Em retratos de espelhos
Nas janelas, em vitrais.

E nas primeiras horas,
Na manhã, na aurora,
Retornam para suas covas
Vazias no repousar.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Rêverie


Cette nuit je crois que j'avais des rêves avec toi en rose
Et tout mon univers s'est arrêté, les heures et mon haleine.
Quand tu m'as regardé avec l'intensité de la mer et des vagues,
Je me suis noyé comme un bohème tombé de la berge de la Seine.

Cette nuit je crois que j'avais des rêves avec toi en rouge
Après un jour plein de douleurs, tu m'as embrassé sans doute,
Et nos corps ont été les nuages jouant dans une grosse tempête
Laquelle il ne reste pas de survivant de tes yeux de foudre.

Cette nuit je crois que j'avais des rêves avec toi en noir,
O cette couleur des rêveries ténèbres donnés par du vin
Et de la fée verte ; Cette maudit fantôme que me poursuivre :
Les délires de rappeler toujours, de notre amour, la fin.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Cadência, compasso, melodia, dia a dia


"Quelle larmes au fond du cloître humide."
Ecrit de Solange, la fille de George Sand sur le prélude Op. 28 No. 4 de Chopin

Acorda. Olhos secos, olhos úmidos,
Olhos cheios de lágrimas e sem elas,
Levanta sem pestanejar de tua cama
Sem pensar, apronta o café e te banha,
Beija teu homem nos lábios e parte,
Parte de ti que não é mais e se vai
Vai para aquele raio que te partiu
Em quantas peças, enquanto notas,
Em quantas vidas e histórias
E toma o ônibus duma manhã quente
Cheia de outros que não vêem mais e
Seguem em certa cadência:
Pra onde, pra onde, pra onde...
Sem se perguntar, sorria à máquina,
Sorria ao faxineiro, sorria ao mandante
Ao maquinário, ao controle de ponto,
E também ao espelho que sorrirá de volta,
E não pense, pois ali não deve refletir.
Nesse dia em que a vaga pelo chão vaga
Arrasta tuas correntes, lamba tuas chagas,
Esconda-se, essa prisão de mil nomes
E quando o hálito se tornar amargo
Volta pra casa correndo, volta logo,
Para aprontar o jantar, beijar as crias,
E deitar teus olhos de mil dias.

Canção da noite


Nesses dias, visto um sorriso nos lábios e no olhar,
Enquanto encaro outros amores e me visto de outro sonhos:
Saiba que para canto de cigarra que declamo nesse verão,
Deixo aos poucos aquela velha casca de retalhos e memórias.
E a noite, quando as horas me assombram e o sono esvanece,
Calço meus chinelos e vago pela areia, vislumbrando o oceano.
Ele me encara e me faz medo, me chamando com seus negros braços
Para um abraço confortável, de cantos de sereias e mil belezas.
Diz-me tantos segredos na rapsódia de ondas milenares, e segue
Sorrindo, fingindo indiferença, como se soubesse me decifrar
Enquanto sigo pela praia, olhando o céu e suas lembranças
Tomando formas, constelações, em um colchão de plumas
No qual deito e vago voando em meus sonhos vívidos de infância.
Indago sobre meu futuro às estrelas e elas sorriem docemente
Tomam minhas mãos e acariciam minha face, colhendo lágrimas
Para criar companheiras de brincar que nunca mais verei
E seu sorriso, que foi esculpido em meu despertar, reaparece
Na figura de cometas e estrelas cadentes pulsantes que arranham
Meu céu, meu coração, fazendo doer de tão belo. E confidenciam:
Cada estrela fugindo é um anjo caindo do paraíso procurando
Um amor para se entregar.


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

I


Disseram que em um dia poderiam haver quatro estações, todas seguidas e sequenciadas ou misturadas. Toda essa sensação atingiria como um soco no rosto, do qual a pior consequência seria algo como se uma brisa refrescante de menta estivesse sido soprada na face e nos lábios. Deve-se sentir isso uma vez em vida: Inferno. Relativo como a sensação de ficar sóbrio depois da ebriedade de longas noites e dias sonhando, na vigília ou nos doces braços de desconhecidos. Inferno, que não é mais que a tortura mundana, sádica e abraçada com o prazer de esquecer. E, com o risco de ser visto e julgado como piegas, em Solidão. Essa amante da loucura, senhora dos vícios, de onde partem quatro sensações das estações, seguidas e sequenciadas ou misturadas. E pode haver algo em vida que seja passível de causar tudo isso, quatro estações em um Inferno de sobriedade e ebriedade, essa Loucura? Vícios mil, pela sensação da vertigem do álcool, pela sensação de flutuar por opiáceos... 

A Paixão.

II


Por entre ruas desertas, nas madrugradas, vaguei procurando por algo que nunca soube bem o que era. Dessas caminhadas, o que trago em mim são os cheiros do verão, da dama da noite e da pimenta. Talvez, ilusões levemente misturadas e ministradas com a realidade do que é realmente a vida.

Novamente, nessa noite, embriagado vago nessa procura, nessa rua que virou uma trilha entre florestas esquecidas, de árvores retorcidas e de vagalumes solitários, onde o som de pântanos distantes parecem emitidos de dentro do meu peito. Em cadência. Um, dois, um, dois, seguido de um grande barulho gorgolejante. Agradável quando se está confortável buscando o sono, inquietante quando se cruza um caminho desconhecido.

A Lua desponta por entre as nuvens, clareando o meu caminho. Seu sorriso indaga aos viajantes, seu motivo. E as respostas de mil anos podem ser escritas em grossos volumes, em mil bíblias. Quanto amor esse astro pôde abençoar e quanto sangue pôde tingir seus lábios que ainda me fitam, indagando? Outra pergunta sem resposta, mais palavras lançadas para um vazio que nunca será preenchido. A pergunta errada para o ser errado com o intuito errado.

O caminho se torna um lamaçal. E o sopro noturno aos poucos aumenta sua intensidade, sussurrando baixinho, rente ao meu ouvido... Algo como um nunca mais, algo como um nunca de algum tipo desconhecido. E, fito o horizonte que se perde em um negrume de galhos e mato fechado, algo que parece uma pálida luz. Tênue, de aparência amarelada, que dança de um lado para o outro. Inferno, talvez também o medo seja teu outro nome e é isso que me assombra. O mundo suspira alto quando paro, trêmulo, observando tal aparição, enquanto as nuvens escondem um último vislumbre do macabro sorriso lunar. Um adeus.

Algo como mil olhos me observam quanto retomo minha caminhada em passos hesitantes, na mesma cadência de pântano de outrora. Um, dois, um, dois, e o barulho gorgolejante. Sigo na direção de onde antes havia a presença de luz amarela. Lá, as copas das árvores passam a emitir um brilho púrpura, dos céus que anunciam grandes tempestades. E, subitamente, uma clareira pode ser vista.

III


Um grito em uma noite fria e solitária poderia ajudar a definir o Medo. Ser presente, que toma forma corpórea na companhia dessa velha amiga, a Solidão. Medo primal acompanha a criança tomando-a pela mão quando todas as luzes se apagam; Porém, deixa-a seguir alegremente pelas frestas de uma janela de um edifício, em sonhos de voar. 

No decorrer da vida, infinitos medos vão se unindo ao ser, se agarrando como diabretes, gárgulas nos ombros, em escárnio da própria vida que vai passando, tal regato de uma estação chuvosa em terra árida. Eles sussurram nos pesadelos e durante a rotina diária. Um medo do juízo, um medo do Inferno, um medo de viver por merecer posteriormente esse mesmo Inferno. Medo de pestes negras, do escuro, da fome, da miséria, do mundo e, por fim, do próprio medo. Acompanhado da ansiedade de viver por algo que realmente não se sabe, na indagação sem sentido e sem respostas. E acumulando coisas para preencher cada buraco de existência. 

Ansiedade, o suor frio que escorre freneticamente pelas têmporas, pelas mãos, enquanto a boca seca e o corpo se contorce. E irracionalmente, como um animal acuado, aquele grito entalado da noite quente e solitária anuncia o Medo pelo mundo. E, de todos, o Medo da Solidão é o mais pernicioso. Essa senhora do Medo, da Loucura e dos Vícios. Mas, nos finais, quando somos novamente crianças, ela é única e sombria companhia.

O Medo.

IV


Estendendo por toda essa clareira, um pequeno cemitério circundando uma igreja pequena, dos quais somente os contornos podem ser vistos, mas a essência pode ser ao longe sentida. Um arrepio como gelo lentamente escorrendo pela espinha. Na Solidão, essa senhora das ilusões, o tempo deixa de existir, bem como os sentidos são embotados. Amigos são ameaças que perseguem, clamando nomes em vão. E nesse lugar de eterno repouso, formas de sonhos são ameaças distintas, no delírio ébrio da loucura.

O céu tinto prenuncia a tempestade, com dedos em riste, apontando para si mesmo. Sigo desolado por entre o caminho que leva à capela, enquanto morcegos espantados fogem ao barulho da canção das nuvens. E meu coração entoa ainda mais forte e rápido seu descompasso. Um, dois, um, dois, três e uma pausa. E sei que, de alguma forma, encontrarei o que procuro dentro de decrépita construção.

No cemitério que aos poucos toma meu caminho, sinto um poder que toca todo o meu corpo. São mãos ávidas pela vida que há muito não ousou visitá-lo. Sinto ainda que os mortos, antes repousando em alguma paz, ou a dissimulando, lentamente acordam e se contorcem sob a terra. Sinto-os, movendo seus pequenos ossos sob minha pele, querendo-a para si. E leio os nomes que estão desgastados pelo tempo, porém não diviso seu significado. Percebo somente a mesma combinação, a mesma sequência, o mesmo poema em todas as lápides. Enquanto isso, os olhos de corujas me fitam, brilhando pela noite, e os grilos continuam suas canções.

V


Sinto que as palavras perdem seu significado facilmente. Mais ainda, que o próprio significado deixa de existir. Ora, por entre notas de violinos que soam ao mesmo tempo eróticas e fúnebres, logo, disso tudo, o que existe realmente é o nada. A sequência da sensação de existência, de memórias que são tão fugidias, de um passado que é facilmente esquecido, implicaria a existência propriamente dita. E do que sou, sei que não sou mais e dissolvo tudo isso em uma pintura de uma Dança Macabra de seres que fui, que a tomo e a chamo pelo nome que me foi dado, esse também, sem significado. Desse emaranhado de significação, o que resta verdadeiro é a Morte. Essa que ocorre a cada segundo dentro de mim, do que supostamente sou. E o Renascimento, de algo que aparenta ser novo, eu. Eu que não existo e que encontrarei a não existência. 

Alas! Maldito ser que foi dotado de tanta ilusão e símbolos, porém só destrói a si mesmo. Abraça falsos mandamentos, abraça a Culpa, a Vergonha, mas esquece do que realmente importa, a Finitude. Segue cego por falsos caminhos de felicidade, enquanto a verdadeira essência está no Amor, amor pela Finitude. E cascatas de enxofre queimam suas pernas enquanto toma uma grande e pesada escultura de madeira cruzada em suas costas e esquece o que realmente foi dito e o que realmente é. Foge da Morte, associada com o Mal, e não percebe que morre e renasce todos os dias. E assim será até a Morte derradeira.

A Morte.

VI


A chuva vem, impiedosa, lavando meu corpo para algum estranho sacrífico. Ponho-me a correr e encontro a porta da capela. Seus contornos e desenhos dos veios de madeira antiga formam seres sendo jogadas ao fogo, de pesadelos de bruxas e sonhos eróticos de inquisitores. E, sem mais, me agarro ao trinco enferrujado e o puxo com toda a força que ainda me resta. 

Nada.

Escuto na escuridão e na tempestade que segue em minhas costas, barulhos de seres que parecem se arrastar em minha direção. São como lesmas, pulsando quentes, lentamente na chuva que se torna púrpura, de um vinho sagrado conspurcado. Ácida, não mais cheio de desejo, mas de vinagre. E os ruídos aquosos se aproximam, estão cada vez mais perto, querendo-me.

Ponho-me a esmurrar as duras portas, com toda a força, minha vontade. E grito com o Medo desse desconhecido que se aproxima impiedosamente. Minhas lágrimas se misturam às lágrimas ocres do céu, enquanto ainda tento em vão adentrar um chão que me parece sagrado. Alas! Santuário! Santuário! Santuário! Ainda buscando algo e fugindo de algo desconhecido, esse meu andar, esse meu caminho, meu destino, minha vida. 

Sinto as coisas rastejarem pelas minhas pernas e lentamente me tomarem. Não olho, não consigo tal o meu terror, enquanto vou perdendo a sensação do meu ser, do meu eu. 

Embriagado, estou embriagado e flutuo. Rompo em algum êxtase improvável e inominável, sem final, e...

VII


Paixão, Medo, Morte. Pesadas penas que são veladas, silêncio consentido de sacerdotes e sacerdotisas, que se entreolham atrevidamente. Sabem o significado, amam o significado e se amam. O eu, esse que é uma ilusão, evita olhar o Destino no fundo dos seus olhos impiedosos. Mas, não percebe que, nesse mesmo olhar, existe algo a mais, algo que é Vida e Alívio. Sopro refrescante de menta e vasos de água de montanhas em dias de ranger de dentes. E não veem que morrem todos os dias, todos os segundos, toda tentativa de domar o Tempo, e que a Esperança está justamente em ressurgir no instante seguinte.

Fênix, queima-me em seu êxtase e libera minhas cinzas para chorar o canto de um garoto inocente ou machucado. Queima esse coração que não percebe que o Amor é a própria Vida, sem cargas inúteis que devem ser levadas pelos vales, pelas montanhas, oceanos. E que a Vida e a Morte são faces de uma mesma túnica que vestimos, avessos, mas indispensáveis. O Renascimento é um simples trocar de túnicas sutilmente semelhantes. E a Esperança é seu alimento.

O Renascimento.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Um deserto


"Je crois entendre encore
Caché sous les palmiers
Sa voix tendre et sonore
Comme un chant de ramiers."

- Bizet.


Eu vago pelo deserto vago
E meu olhar seco se perde
Por entre as dunas e o céu
E a ilusão dum oásis verde.

Vago até as pernas sem forças
Se dobrarem sobre si mesmas,
E meus braços tomarem a areia
Que tomou a forma de um poema.

Sim! Aqueles versos soprados!
Essas linhas assim escritas
Embora sejam secas e simples
Também são belas e malditas!

Em meu êxtase de morte sóbria
Da companhia sisuda d'abutres,
Ouço além do esgar do destino
O sino dum cais alhures.

Eis que a alma de um navio
Desponta na lenta e sinuosa
Tarde de um veraneio de dor
Declamando canções e trovas.

Um triste capitão em sua proa
Solitário, um lobo distante,
Uiva somente esse lamurio:
"Onde está meu amor, aonde?"

Alas! Gaivotas negras reluzem
Sob o astro inclemente no céu.
"Senhor", soa minha voz fraca
"Será minha fortuna, teu réu?".

Senhor de negras barbas segue
Como surdo, como cego, como alma,
Em seus olhos em devaneio se lê
Sobre o amor que assim declama:

"Onde está meu amor, aonde?
 Lá, gatos são leões e dizem
 Promessas de vidas passadas
 Que perdi em meus olhos tristes."

"Onde está meu amor, aonde?
 Adocei minha alma na tua
 E o vício desse teu ópio
 Me leva a dor e a loucura"

O sopro que percorre o peito
Esvai lentamente ante a visão
De negras gaivotas e sinos,
Na canção azul desse capitão.

Congela meus ossos finos, ó calor!
Que minh'alma arda no teu olhar
Lançado em paz, agora e nunca,
Para o navio, a mim, ao mar.

Arrepia-me em notas dissonantes
De êxtase divino, de um abraço,
Do amor pelo fim e pela lua,
E pelo que é dor, me satisfaço.

Rasga minhas vestes e vergonha,
E me tome na paz desse fim.
Que minha escuridão seja santa
E imortal do odor do alecrim.

E acordo com um forte gosto
Do sangue de minha hecatombe.
Vago pelas dunas, entoando:
"Onde está meu amor, aonde?"

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Along a beach...


"She walks in beauty, like the night
   Of cloudless climes and starry skies;"

- Lord Byron.

Along a beach, she walked alone
Among the sand, under the moon.
Despite her footsteps are now gone
Lost in the sea and misty gloom
I still can hear her beauty's song
In the breeze, it lingers on.

Along a beach, she walked alone
And let her eye to be a star.
Despite that night is now done
In my memories, it's not so far
When I deem'd to feel her cheek
Next to my fingers and my lip.

What must I do to have you near
If you don't want to feel me too?
I roam endlessly above all fears
To stand inside the dreams of you.

And so I stand and still my dear
Through the nights of lone songs,
I sing my poems you could not hear:
Along your beach, I walk alone.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Revelações


Foi em um Domingo.
Dia dos espíritos se inquietarem
Tomados pela ansiedade, na escuridão
Que tomou lentamente o mundo.

Eu vi pelos céus que pegavam fogo
No horizonte, a despontar inclemente,
Nas pétalas de uma rosa vermelha,
Quatro vultos a cambalear.

E foram quatro estações de emoções
Que se apossaram de nossas almas
Ao notar a escuridão que há muito
Era uma mancha tatuada na tez.

E dos vultos que assomavam,
Gigantes em estatura e em visões
Pairando sobre a terra seca,
Ecoavam fortes sinfonias.

O primeiro era como um Leão
E seus pelos eram raios de Sol,
Seus olhos flamejavam; Sua presença
Era acompanhada de Renascimento.

O segundo era como um Touro
E seus pelos eram pinturas e formas.
Seus chifres imponentes sonavam
Canções de Força e Sacrifício.

O terceiro era como um Cavalo
Cuja face era humana,
E seu porte altivo entoava
Hinos de Sabedoria e Beleza.

O quarto era uma Águia de Afrodite,
De cujos braços jorravam Torrentes
E seu odor de virgens Orquídeas
Era doce, como o sabor dessa Criação.

Das nuvens de tempestade, surgiram
Quatro e vinte sábios
E dois altares ascenderam das florestas
Para pousarem na colina da Cidade.

Uma pequena Ovelha trouxe um Livro
Tomou lugar entre os pés dos Regentes
E seus Chifres de Ouro eram Inocência.
Trazia sete selos, abertos por Ela.

O primeiro selo era do Maior dos Deuses,
Montado sobre o Cavalo da Sabedoria.
E seus raios cruzaram as almas das pessoas
Que perderam a Culpa e a Vergonha.

O segundo selo era do Senhor do Sangue ,
Montado sobre um cavalo herói vermelho.
Toda a Guerra e Ódio foram nada mais
Que pesadelos de outrora.

O terceiro selo era do Mensageiro,
E seu cavalo era negro de Libra.
Trazia o Vinho e a Chave
Que instaurou como Justiça nos corações.

O quarto selo era do Senhor da Morte,
E do Tempo, cujo cavalo era pálido,
Um Escorpião de coração púrpura.
E Ele levantou os Mortos em Vida.

O quinto selo eram canções de Amor,
Por aqueles que viram a face do Destino
E foram ternura nos lábios dos homens,
Suas faces surgiram nas nuvens.

E no sexto selo, labaredas desceram das estrelas
Enquanto a Lua tomava o Sol como amante
Os céus foram um leito de Sangue
E emanavam o calor daqueles Corpos.

Um grande silêncio se apossou do mundo
Quando o sétimo selo foi aberto
E toda a Fome foi saciada e os homens
Se abraçaram como irmãos.

E a Virgem da coroa de Doze Espinhos
Se prostrou sob o amor do Sol e da Lua
E o mundo foi abençoado com a Inocência
Das almas de todos os seres.

E surgiu Babilônia, Afrodite, que era deslumbrante
Tomei-a entre meus braços e beijei seus seios
E a Santidade de todas as mulheres explodiu nos oceanos
Passando a governar seus Instintos e seu Destino.

O Seu corpo era Desejo e seu Olhar
Misturava odores Lascivos e de Inocência.
Embora houvesse queimado meu coração em Incenso
Nada pude fazer para a tomar como amante.

Cantava canções dos quatro vultos
Que diziam Paixão, Amor, Entrega e Instinto
E o tempo parou quando fugiu do meu toque
Abraçando o Mundo com vivacidade.

E nos tronos, a direita, o Anjo de Luz era um homem
Sua expressão era energia e escuridão.
Serviam ao seu lado, seres como faunos
E o Desejo era seu conselheiro.

Na esquerda, uma Mulher era a criadora do Mundo
E seu vestido era Alvo e Púrpura.
Querubins entoavam canções de Vida
E todos se uniram como Universo.

Nos pés dessa União, jazia o Filho de Ambos
O Cordeiro, a Ovelha de sete Chifres
E sua essência é Amor Infinito e Divino
Pois é o filho do Homem e da Mulher.

E um novo jardim floresceu na Humanidade
Toda a culpa tomada como carga se esvaneceu.
E o Fruto, tão doce e tão ácido, é somente
Mais um detalhe para o Desacorrentado Prometeu.




quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Incógnita


Tabu tabu tabu tabu tabu tabu tabu tabu tabu tabu tabu tabu.
Se repetido fosse por mil vezes, deixaria de ser? Tabu!
Se repetido fosse por mil horas, deixaria? Tabu!
Se repetido fosse por mil anos? Tabu!
Se repetido fosse por mil? Tabu!
Se repetido fosse por? Tabu!
Se repetido fosse? Tabu!
Se repetido? Tabu!
Se? Tabu!
Tabu.


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Surpresas


Estava eu a navegar com todo o sono do mundo de alguém que foi dormir às 3h, quando logo me deparo com um site que classificou esse meu querido blog. Segue o link:

http://urlespiao.com.br/www.chasembolachas.blogspot.com#web

Segundo essa "urlespião", as visitas mensais a essa página não ultrapassam a faixa de 300 pessoas, levianamente enganadas pelo Google quando buscaram receitas para o chá da tarde com bolachas, ou de lingerie, ou somente variedades indianas ou inglesas ou de teor alucinógeno dessa nossa bebida...

Infelizmente, aqui não existem bolachas, somente o chá.

Contudo, o que mais me impressiona é a estimativa de valor pecuniário concebido por meio de algum critério a mim obscuro ao meu querido espaço virtual. Na referência acessada nesse dia, cuja última atualização foi realizada em 25 de novembro de 2013, esse valor é estimado em R$ 257,59. Ainda mais: até essa atualização, meu último post havia sido editado em 21 de agosto de 2010. De lá para cá, surgiram mais cinco posts, com certeza agregando mais valor e valia ao meu singelo espaço e, talvez, por conseguinte, às minhas tentativas criativas.

Esperemos para ver se algum dia não receberei alguma proposta milionária... Com certeza, fugiria pra Andorra, pois lá sou amigo do príncipe regente.

O mundo


"É algo como um sonho, na verdade
 É algo como você ser livre pra fazer as coisas que gostaria
 E ter a segurança de que tudo ficaria bem
 Um sonho
 Mas, esse mundo é não é mais que um sonho
 Ele não existe
 Esse sonho foi fechado
 E o que sobra é a realidade
 É o chão que existe de verdade
 E ele é frio
 É cinza
 E não tem conforto

 De um lado, o que se deseja
 O que se quer viver
 E sentir
 Do outro
 A impossibilidade
 O sonho que desaba

 E o mundo fica desprovido de magia
 Ele é apenas a realidade
 Mas, a realidade não tem sentido sem os sonhos

 De qualquer forma
 É um sonho que quebra
 É algo que não se realiza
 É como o mundo é
 O chão é só um chão
 Não um carpete
 Nem um colchão
 Onde se pode cair
 De uma grande altura
 E ficar bem
 E até dormir
 Como uma piscina de bolinhas
 Ou um circo
 Um espetáculo
 Onde tudo é mágica
 Mas, quando as luzes se apagam
 E toda a platéia vai embora
 Percebe-se que é somente um cenário
 E que nada daquilo é real
 Foi só um espetáculo
 E o que sobra
 É um palco frio
 E vazio"

Todas as confusões estão feitas
E o caos toma conta do mundo
Ele gira e gira sem direção certa
Rodopiando em êxtase profundo

Todas as cores estão trocadas
E assim trocadas estão as fichas
Apostadas pelo jogador astuto
Num cassino ali na esquina.

Você gostaria de pular as escadas
E cair em um chão acolchoado
Em plumas e tecidos de algodão?

Não, sinto muito, mas esse mundo
Foi fechado pra balanço e reforma
De forma que o chão é nada mais
que o chão.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Sabius Mussum


Essis textus est geniales

"Mussum ipsum cacilds, vidis litro abertis. Consetis adipiscings elitis. Pra lá , depois divoltis porris, paradis. Paisis, filhis, espiritis santis. Mé faiz elementum girarzis, nisi eros vermeio, in elementis mé pra quem é amistosis quis leo. Manduma pindureta quium dia nois paga. Sapien in monti palavris qui num significa nadis i pareci latim. Interessantiss quisso pudia ce receita de bolis, mais bolis eu num gostis. Suco de cevadiss, é um leite divinis, qui tem lupuliz, matis, aguis e fermentis. Interagi no mé, cursus quis, vehicula ac nisi. Aenean vel dui dui. Nullam leo erat, aliquet quis tempus a, posuere ut mi. Ut scelerisque neque et turpis posuere pulvinar pellentesque nibh ullamcorper. Pharetra in mattis molestie, volutpat elementum justo. Aenean ut ante turpis. Pellentesque laoreet mé vel lectus scelerisque interdum cursus velit auctor. Lorem ipsum dolor sit amet, consectetur adipiscing elit. Etiam ac mauris lectus, non scelerisque augue. Aenean justo massa."

domingo, 1 de dezembro de 2013

Sobre a verdade que começa amanhã


Em um preguiçoso domingo a tarde
Resolvi me perder dentro de mim,
E o jardim que cultivo aqui dentro
Foi tomado por demônios e serafins.

Lá eu esperava por alguém, ansioso,
Enquanto a escuridão tudo tomava
Nessa minha noite, nessa minha casa.

E eis que você foi criada.

Sua alma era púrpura escurecida
De melodias suaves dos meus sonhos
De tudo e todos que deixei um dia

Dizia

"Vamos beber do coração da noite
 Pois o destino é um homem que me toma
 Eu, irmã alada da lua solitária".

Cantava

"Vamos beber pelo coração da noite
 Enquanto você se perde todo em mim
 Eu, irmã alada do destino solitário".

- Se sua canção não tocasse minha alma, o que mais faria ? -

Semelhante a melhor das formas já vistas
Você era como um pássaro andando sobre brasas
Em um infinito de cores voláteis e pulsantes
Subindo e descendo e caindo e girando
E o seu sabor era o da cereja ácida
Da torta de maçã mais doce

E da sensação de nadar nu em um oceano

O tempo derreteu sobre meus ombros quando me beijou
E, de repente, um êxtase divino trespassou meu ser
E a leve pena de minha vergonha feita em casa
Voou para longe...

E sobre a verdade que começa amanhã:
Bom, fui somente uma ilusão?

On truth that begins tomorrow


In a lazy Sunday afternoon
I got lost within myself
My inner garden in bloom
Was like heaven and hell

There I wait for someone
While down in the darkness
In my night, at home

And so you arose

Your soul was red and black,
Soft melodies of my dreams
Of everything one day I left

Said

"Let's drink of the heart of the night
 As fate is but a man who embraces me
 I, sister of the lone moon"

Sang

"Let's drink for the heart of the night
 As you free fall in love with me
 I, sister of the lone doom"

- If your song wouldn't whisper in my heart, what would do it? -

Close the best of well-seeming forms
You were like a bird walking in ashes
And a multitude of ever-changing colors
Rising and falling and twisting
Tasting acid cherry
A sweet apple pie

And the sensation of swimming naked in the sea

Time melted down over my shoulders as you kissed me
Suddenly rapture slashed my entire being
And the feather of ground in my homemade shame
Flew away...

On truth that begins tomorrow:
Well, was I just a fantasy?

sábado, 30 de novembro de 2013

Manequim homem


Manequim homem
De plástico branco, de humano plástico
Não é mais do que deveria ser
Menos do que gostaria, com sua máscara
E seu infinito closet

Tira sua roupa e intimidade se revela
Alvo, sempre limpo e cheirando a carro lavado

Tira ainda seus braços, suas mãos e as troca por produtos novos

Manequim homem, esconde tua face e tua vergonha
Finge-se de boneco e de homem se finge o autômato

Esse Homem manequim vive
E regurgita horrores sobre existência
Cheirando a álcool do Mendigo
Mais manequim homem que homem manequim

Mas, o Mendigo na verdade é um mendigo
Menos do que o manequim homem, menos do que homem para o Homem
E ainda menos do que o homem que não é Homem e se finge de manequim

Manequim homem vendeu muito na última Black Friday
E comprou uma dignidade que atinge velocidade mais que permitida nas rodovias
vendeu também sua dignidade e, dela, seu conceito

Agora a felicidade vem em garrafas, latas e corpos
E finais de semana e jogos e feriados e carnaval e comidas diets e plástico animado
Para Homens que querem ser manequim homens
E homens manequins de faces de razão áurea

E o Mendigo que não é Homem, nem manequim, nem sabe da razão áurea
Alucina enquanto vaga pelas ruas de cidade grande
Buscando algo no lixo e algo para não se importar.


terça-feira, 26 de novembro de 2013

Indiferença


"The rest is silence."
- William Shakespeare, Hamlet

"How much difference does it make?"
- Eddie Vedder, Indifference

Apagou o terceiro cigarro no cinzeiro de marfim,
Observando o pôr do Sol e a tempestade chegando
Em nuvens negras, uma atmosfera estática, tensa,
Levando as folhas secas, ressacas do último outono.

Sozinho, saboreando o amargo do café e da tarde,
A vida indiferente passa na figura de uma criança
Fugindo para um abrigo da tormenta, para casa
Vista pela perspectiva desse atento olhar sulcado

Da varanda daquela casa, viu-se três relâmpagos, 
Riscaram o céu rubro em desenhos de violência
E sons de armas e trovão anunciaram o porvir
Inclemente, a chuva lavou o pó da alma do mundo.

"Uma doce companhia", matutou esse velho homem
Na indiferença da vida que passava tão alheia
E se serviu de mais uma dose de qualquer coisa
Misturada com a doçura da torrente e da noite.

Viu cair suas lembranças uma a uma nas gotas
Que foram se desbotando em aquarela pela terra
Uma vida diluída regou tantas vidas que brotaram
E as memórias foram gravuras de uma galeria 

Os olhos sulcados, a pele curtida, os lábios
Que foram portas de amor e amargura, as mãos,
Essas que esculpiram mil formas e destruiram,
Esvaneceram lentamente livres e se perderam...

...

E a vida seguiu em passos sem tempo e destino
A madrugada foi leve e o repouso, tranquilo
A criança sonhou com um milharal e com doces
Por fim, acordou e foi mais um dia pra escola.