terça-feira, 17 de dezembro de 2013
Cadência, compasso, melodia, dia a dia
"Quelle larmes au fond du cloître humide."
Ecrit de Solange, la fille de George Sand sur le prélude Op. 28 No. 4 de Chopin
Acorda. Olhos secos, olhos úmidos,
Olhos cheios de lágrimas e sem elas,
Levanta sem pestanejar de tua cama
Sem pensar, apronta o café e te banha,
Beija teu homem nos lábios e parte,
Parte de ti que não é mais e se vai
Vai para aquele raio que te partiu
Em quantas peças, enquanto notas,
Em quantas vidas e histórias
E toma o ônibus duma manhã quente
Cheia de outros que não vêem mais e
Seguem em certa cadência:
Pra onde, pra onde, pra onde...
Sem se perguntar, sorria à máquina,
Sorria ao faxineiro, sorria ao mandante
Ao maquinário, ao controle de ponto,
E também ao espelho que sorrirá de volta,
E não pense, pois ali não deve refletir.
Nesse dia em que a vaga pelo chão vaga
Arrasta tuas correntes, lamba tuas chagas,
Esconda-se, essa prisão de mil nomes
E quando o hálito se tornar amargo
Volta pra casa correndo, volta logo,
Para aprontar o jantar, beijar as crias,
E deitar teus olhos de mil dias.
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