quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

II


Por entre ruas desertas, nas madrugradas, vaguei procurando por algo que nunca soube bem o que era. Dessas caminhadas, o que trago em mim são os cheiros do verão, da dama da noite e da pimenta. Talvez, ilusões levemente misturadas e ministradas com a realidade do que é realmente a vida.

Novamente, nessa noite, embriagado vago nessa procura, nessa rua que virou uma trilha entre florestas esquecidas, de árvores retorcidas e de vagalumes solitários, onde o som de pântanos distantes parecem emitidos de dentro do meu peito. Em cadência. Um, dois, um, dois, seguido de um grande barulho gorgolejante. Agradável quando se está confortável buscando o sono, inquietante quando se cruza um caminho desconhecido.

A Lua desponta por entre as nuvens, clareando o meu caminho. Seu sorriso indaga aos viajantes, seu motivo. E as respostas de mil anos podem ser escritas em grossos volumes, em mil bíblias. Quanto amor esse astro pôde abençoar e quanto sangue pôde tingir seus lábios que ainda me fitam, indagando? Outra pergunta sem resposta, mais palavras lançadas para um vazio que nunca será preenchido. A pergunta errada para o ser errado com o intuito errado.

O caminho se torna um lamaçal. E o sopro noturno aos poucos aumenta sua intensidade, sussurrando baixinho, rente ao meu ouvido... Algo como um nunca mais, algo como um nunca de algum tipo desconhecido. E, fito o horizonte que se perde em um negrume de galhos e mato fechado, algo que parece uma pálida luz. Tênue, de aparência amarelada, que dança de um lado para o outro. Inferno, talvez também o medo seja teu outro nome e é isso que me assombra. O mundo suspira alto quando paro, trêmulo, observando tal aparição, enquanto as nuvens escondem um último vislumbre do macabro sorriso lunar. Um adeus.

Algo como mil olhos me observam quanto retomo minha caminhada em passos hesitantes, na mesma cadência de pântano de outrora. Um, dois, um, dois, e o barulho gorgolejante. Sigo na direção de onde antes havia a presença de luz amarela. Lá, as copas das árvores passam a emitir um brilho púrpura, dos céus que anunciam grandes tempestades. E, subitamente, uma clareira pode ser vista.

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