quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

VI


A chuva vem, impiedosa, lavando meu corpo para algum estranho sacrífico. Ponho-me a correr e encontro a porta da capela. Seus contornos e desenhos dos veios de madeira antiga formam seres sendo jogadas ao fogo, de pesadelos de bruxas e sonhos eróticos de inquisitores. E, sem mais, me agarro ao trinco enferrujado e o puxo com toda a força que ainda me resta. 

Nada.

Escuto na escuridão e na tempestade que segue em minhas costas, barulhos de seres que parecem se arrastar em minha direção. São como lesmas, pulsando quentes, lentamente na chuva que se torna púrpura, de um vinho sagrado conspurcado. Ácida, não mais cheio de desejo, mas de vinagre. E os ruídos aquosos se aproximam, estão cada vez mais perto, querendo-me.

Ponho-me a esmurrar as duras portas, com toda a força, minha vontade. E grito com o Medo desse desconhecido que se aproxima impiedosamente. Minhas lágrimas se misturam às lágrimas ocres do céu, enquanto ainda tento em vão adentrar um chão que me parece sagrado. Alas! Santuário! Santuário! Santuário! Ainda buscando algo e fugindo de algo desconhecido, esse meu andar, esse meu caminho, meu destino, minha vida. 

Sinto as coisas rastejarem pelas minhas pernas e lentamente me tomarem. Não olho, não consigo tal o meu terror, enquanto vou perdendo a sensação do meu ser, do meu eu. 

Embriagado, estou embriagado e flutuo. Rompo em algum êxtase improvável e inominável, sem final, e...

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