sábado, 24 de outubro de 2015

Lamento de Dido

Mote:
"Lágrimas escorreram das viúvas em luto
 De corações enegrecidos ao contemplar
 A névoa que tomou os dias quentes
 Em seus toques frios, pálidos e cinzas."

Vejo minhas mãos ressecando, lentas
No meu caminhar doloroso, retorcido,
As horas, essas sim tem pressa e fogem
Dissolvem-se nas brumas do ocaso.

Meus amores, que m'embriagaram,
Eram próprios à lua em beleza e
Dessa mesma sorte, severa e fatal,
Minguam, indiferentes às lagrimas.

A amizade, uma flor lasciva ao sol,
Em verões quentes, ébrios de cerveja,
Ressecadas pelas incertezas d'outono
E, no inverno, ceifadas pelo descaso.

Se busco o consolo de minha presença,
Falham minhas memórias fugidias,
Onde era a esperança, é-me apatia
Tudo o que resta, a certeza d'olvidar.

O que é o beijo legítimo do fim
Além d'oblívio, ingrato vazio?
Justo, como o incêndio que ceifa
Minhas lembranças desbotadas.

Em meio ao caminho de pedras
Onde vagas faces devoram o tempo
Apáticas, para serem labaredas,
Definho, pesaroso.

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

A Morte e a Criança

 Me perdi nas palavras da criação
Uma criança cuja cabeça despontou
Do buraco da toupeira curiosa
Logo voltou e caiu, e caiu.

Caiu para onde? Não tem pra onde.
Mas, ainda esperou silenciosamente
Esperou as nuvens roxas da noite
Esperou a carícia da madrugada.

Criança fugida nadou no oceano
E pro oceano foi-se indo, nas águas
Fundindo-se com o céu noturno
Órion encontrou Escorpião.

Das espumas, despontei, hesitei,
Corri para a areia, provei a poeira,
Mas, ainda, sim, provei da cerveja
Embriaguei-me de sal iodado.

Como poderia saber dessa Dança
Da Morte que tomamos parte? Não poderia.
Um beijo de morte para a brisa que me leva.
Um beijo de morte para a noite que me toma.

sábado, 11 de abril de 2015

Uma casinha na montanha


Ao lado de um lago que reflete um céu sem nuvens,
Uma casinha de madeira, um casal de velhinhos...
É outono, minha linda, acenda a lareira... Vamos...
Pego lenha lá no bosque, o cheiro da terra úmida,
Do cogumelo, do pinho, d'água corrente,
A chaleira apita, chiando, as gotas escorrendo,
Suas lágrimas descendo lentamente seu corpo.
Servido a mesa tosca, sem bolachas, sem toalha,
Porém na temperatura de um coração em paz.
Perto da temporada do salmão, no frio dos montes,
No lago que é um abraço de uma mãe carinhosa
E um devaneio de uma vida tão distante.
Um beijo de um minuano enquanto o Sol oblíquo
Vai passando devagarinho pelo horizonte.
Lua cheia que sangrou meu coração refletiu
No espelho dos meus olhos marejados,
Enquanto ruge o vento, uiva e bate nas charnecas,
Bate na cara, bate no cão e no urso, no lobo,
Bate nas lápides, nas cruzes, na capelinha,
Bate nos transeuntes de uma cidade ao norte,
Risca o rosto até enrubescer, na noite sem horas,
Quando a constelação de escorpião sorriu de volta,
Sorriu para mim, para meu pai, para meu avô,
Para minha mãe, meus irmãos, meu espírito.
Caminhei até o lago, era madrugada. Cerração.
Insone, olhei para o espelho desvanecido em névoa,
Quis me dissolver nesse abraço frio e sem memória.


domingo, 15 de março de 2015

Meu vazio

As horas passam pelo meu pescoço.
A linha do tempo, uma corda cruel
Roçando gentilmente. Uma cobra
Deslizando para o bote preciso.

Suas fibras são os tristes segundos
Perdidos de minha vida seca,
Inútil e descabida; e seu veneno
É o sopro que me faz despertar.

A agonia das manhãs certeiras,
Uma após a outra, rumo ao nada.
Vazio amorfo e eterno, sereno,
Meu vazio cheio de ansiedade.



sexta-feira, 13 de março de 2015

Místico New Age Pentecostal Giratório

(1)
Não soube se eram pedras, ruínas de outro mundo,
Muros caídos, padrões desenhados em um campo.
Uma vila abandonada tomada pela hera e morcegos,
Despontando logo ali, na praça central, no domingo.
(2)
Andando pelas ruas, me deparo com essa cicatriz,
Traços na pele de uma planície seca, palpitando,
Sorvendo as últimas lufadas de ar, moribunda,
Enquanto padece, é infestada e explorada.
(3)
Vida, essa que não tem muito o porquê do ser
Vai sendo marcada diariamente por tatuagens,
Doloridas, prazerosas, do escarlate ao turquesa,
Até chegar ao preto no branco cruel e escarificado.
(4)
Dizem ainda que na pele vagam fantasmas, aparições,
Reingressantes, doppelgangers, cicatrizes astrais,
Nos infinitos planos em que se repetem fatos
De karmas fatoriais de inflações infinitesimais.
(5)
Naquela avenida ainda, assombração deve ter sim,
Pois todo verão, pessoas são tragadas para o rio,
Para buracos e valas comuns, pelas enxurradas
Como um sacrifício moderno a algum deus decadente.
(6)
Ainda que irão para um paraíso num plano liberal,
Com sete vezes sete vezes sete virgens incansáveis
Porque trabalharam como ovelhas por todas a vida
E foram sacrificados para o deus lovecraftiano.
(7)
Alguns ainda viraram esses revenantes chatos,
Porque morreram de tédio e de vida em correntes,
Dado nenhuma opção melhor, assombram do centro
De Santa Bárbara d'Oeste até Miami Baby e Londres.
(8)
Chato é não ter a opção de sumir completamente,
Ora tem o céu, ora o inferno comunista gayzista,
Pois fazemos sexo antes do casamento ou ainda
Entregamos-nos a preguiça, as drogas e a vida real.
(9)
O paraíso das virgens ainda é melhor que o céu
Da contemplação infinita dos anjos na paz completa,
Um estado de existência meio não existente, permita-me,
Virar uma vagem em meio a uma plantação de leguminosas.
(10)
Assim, embora não querer querendo cortar a onda do Camus,
Mesmo reconhecendo o absurdo dessa tarefa tediosa,
Não se revoltando e criando essa coragem infactível,
Declaro que é melhor viver do que virar uma cenoura.

domingo, 1 de março de 2015

Over a tiger.

I remember sunny days, lonely sunsets,
I remember life with no regrets.

Friends smiling over lost stories,
Around the fire, our days of glories.

Everything triumphs over a lone wish.
Can a lone fish sway the stream?
Can a lone fish sway the stream?

Always waiting for the Sun to come
We couldn't see it would us burn.

Every soul wants to touch the Sun now
No matter what awaits us anyhow.

Epilogue

I see my days with dry eyes, crystal clear.
Mean and bitter.

Over a tiger worries an eater.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Canção da Separação

Minha Lua, cadê meu amor?
Como uma estrela-cadente...

Minha bela, veja bem
Do que de nós sobrou
Tome a foto que descoloriu
Com(o) nossos sorrisos frios
E olhos secos mirando o vazio.

Minha bela, fique bem,
Até o Sol surgir
Lá pelas frias horas da manhã
E abraçar uma triste órfã
Beijar-te, minha doce irmã.

É tarde, e bem sabe, amor.