(1)
Não soube se eram pedras, ruínas de outro mundo,
Muros caídos, padrões desenhados em um campo.
Uma vila abandonada tomada pela hera e morcegos,
Despontando logo ali, na praça central, no domingo.
(2)
Andando pelas ruas, me deparo com essa cicatriz,
Traços na pele de uma planície seca, palpitando,
Sorvendo as últimas lufadas de ar, moribunda,
Enquanto padece, é infestada e explorada.
(3)
Vida, essa que não tem muito o porquê do ser
Vai sendo marcada diariamente por tatuagens,
Doloridas, prazerosas, do escarlate ao turquesa,
Até chegar ao preto no branco cruel e escarificado.
(4)
Dizem ainda que na pele vagam fantasmas, aparições,
Reingressantes, doppelgangers, cicatrizes astrais,
Nos infinitos planos em que se repetem fatos
De karmas fatoriais de inflações infinitesimais.
(5)
Naquela avenida ainda, assombração deve ter sim,
Pois todo verão, pessoas são tragadas para o rio,
Para buracos e valas comuns, pelas enxurradas
Como um sacrifício moderno a algum deus decadente.
(6)
Ainda que irão para um paraíso num plano liberal,
Com sete vezes sete vezes sete virgens incansáveis
Porque trabalharam como ovelhas por todas a vida
E foram sacrificados para o deus lovecraftiano.
(7)
Alguns ainda viraram esses revenantes chatos,
Porque morreram de tédio e de vida em correntes,
Dado nenhuma opção melhor, assombram do centro
De Santa Bárbara d'Oeste até Miami Baby e Londres.
(8)
Chato é não ter a opção de sumir completamente,
Ora tem o céu, ora o inferno comunista gayzista,
Pois fazemos sexo antes do casamento ou ainda
Entregamos-nos a preguiça, as drogas e a vida real.
(9)
O paraíso das virgens ainda é melhor que o céu
Da contemplação infinita dos anjos na paz completa,
Um estado de existência meio não existente, permita-me,
Virar uma vagem em meio a uma plantação de leguminosas.
(10)
Assim, embora não querer querendo cortar a onda do Camus,
Mesmo reconhecendo o absurdo dessa tarefa tediosa,
Não se revoltando e criando essa coragem infactível,
Declaro que é melhor viver do que virar uma cenoura.
Pois, mesmo crendo que após o sacrifício moderno sempre se pende a um dos lados, e nada contra as luguminosas, ainda assim, também declaro a vida à qualquer incógnita espiclondrífica. E assim o faço porque lá faltar-me-ão o calor dos abraços, o gosto dos beijos e o prazer de todas as virgens, tudo isso, em comunhão com a mais perfeita paz! :)
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