"And tear us apart and make us meaningless again"
- Muse.
De saltos altos apressados, tão fugidios,
Fixaram-se, gravados em alto relevo.
Também o frio e o nevoeiro daquele dia,
Meu coração, envolveram e logo soaram
No piano, num concerto de despedidas.
Enquanto o mundo passava ali tão certo,
Horas, imponentes e imortais, se foram.
Estática foi a memória em mim gravada.
Lembro-me do rugido da locomotiva:
Gritou tão forte ao te levar para longe
Enquanto eu chorava baixo para ficar.
Daquele olhar que me deu ao partirmos
Compus um quadro onde sua esperança
Eram raios de Sol naquele dia tão cinza.
Daquele sorriso que me deu de consolo
Fiz esculturas de mil histórias e heróis
Nas quais éramos salvos pelo destino.
Ai de mim, mal sabia o sabor da mágoa.
Ai de mim, solitário, fiquei aos prantos.
Esqueci-me do nome da noite e do dia.
Ai de mim que fui tal lenha e gasolina.
Ai de mim, adormecia nos seus trapos
Que deixou ali para me sentir contigo.
Daquele quadro que compus, amarelo,
Fiz novos cenários em ocre e marrom,
Minhas florestas silenciosas e vazias.
Daquelas esculturas de mil histórias,
Fiz releituras de vidas passadas para
Enganar a memória, em mim, gravada.
Aqui, o frio me arremete ao contemplar
Nosso cenário quebrado, doce e onírico.
Foi-me aconchego decadente e amor.
Gravou-me impiedosamente, seu beijo
Que, ávido, barganhei pela minha vida
Sem saber que abraçava minha morte.