quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

III


Um grito em uma noite fria e solitária poderia ajudar a definir o Medo. Ser presente, que toma forma corpórea na companhia dessa velha amiga, a Solidão. Medo primal acompanha a criança tomando-a pela mão quando todas as luzes se apagam; Porém, deixa-a seguir alegremente pelas frestas de uma janela de um edifício, em sonhos de voar. 

No decorrer da vida, infinitos medos vão se unindo ao ser, se agarrando como diabretes, gárgulas nos ombros, em escárnio da própria vida que vai passando, tal regato de uma estação chuvosa em terra árida. Eles sussurram nos pesadelos e durante a rotina diária. Um medo do juízo, um medo do Inferno, um medo de viver por merecer posteriormente esse mesmo Inferno. Medo de pestes negras, do escuro, da fome, da miséria, do mundo e, por fim, do próprio medo. Acompanhado da ansiedade de viver por algo que realmente não se sabe, na indagação sem sentido e sem respostas. E acumulando coisas para preencher cada buraco de existência. 

Ansiedade, o suor frio que escorre freneticamente pelas têmporas, pelas mãos, enquanto a boca seca e o corpo se contorce. E irracionalmente, como um animal acuado, aquele grito entalado da noite quente e solitária anuncia o Medo pelo mundo. E, de todos, o Medo da Solidão é o mais pernicioso. Essa senhora do Medo, da Loucura e dos Vícios. Mas, nos finais, quando somos novamente crianças, ela é única e sombria companhia.

O Medo.

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