quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

IV


Estendendo por toda essa clareira, um pequeno cemitério circundando uma igreja pequena, dos quais somente os contornos podem ser vistos, mas a essência pode ser ao longe sentida. Um arrepio como gelo lentamente escorrendo pela espinha. Na Solidão, essa senhora das ilusões, o tempo deixa de existir, bem como os sentidos são embotados. Amigos são ameaças que perseguem, clamando nomes em vão. E nesse lugar de eterno repouso, formas de sonhos são ameaças distintas, no delírio ébrio da loucura.

O céu tinto prenuncia a tempestade, com dedos em riste, apontando para si mesmo. Sigo desolado por entre o caminho que leva à capela, enquanto morcegos espantados fogem ao barulho da canção das nuvens. E meu coração entoa ainda mais forte e rápido seu descompasso. Um, dois, um, dois, três e uma pausa. E sei que, de alguma forma, encontrarei o que procuro dentro de decrépita construção.

No cemitério que aos poucos toma meu caminho, sinto um poder que toca todo o meu corpo. São mãos ávidas pela vida que há muito não ousou visitá-lo. Sinto ainda que os mortos, antes repousando em alguma paz, ou a dissimulando, lentamente acordam e se contorcem sob a terra. Sinto-os, movendo seus pequenos ossos sob minha pele, querendo-a para si. E leio os nomes que estão desgastados pelo tempo, porém não diviso seu significado. Percebo somente a mesma combinação, a mesma sequência, o mesmo poema em todas as lápides. Enquanto isso, os olhos de corujas me fitam, brilhando pela noite, e os grilos continuam suas canções.

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