De madrugada, o céu me devolve a gentileza,
Feita às estrelas, a brisa noturna, silente,
Devolve um olhar de milhares e brilhantes íris,
Tão inertes quanto minhas etéreas indagações.
Gentil universo que me acompanha nessa vida
Mísera e de inquieta palpitação tonal,
Que insiste em querer fugir do meu peito
Para encontrar lindas pedras no infinito.
Fugir da solidão que me acompanha nas ruas,
Nas horas da madrugada insone até a alvorada,
Com pássaros e melodias de calmo desespero,
Até a noite me saudar de novo, de volta.
Esse meu retrato inacabado, esboçado,
Do meu despertar, minha respiração até
O meu certo último suspiro que não tarda,
Permanece vago, indistinto e enclausurado.
Vago triste e de coração pesado, cinza,
Pela garoa da vida que se apossou de mim
Sem mesuras, sem lisonjas, para que possa
Sempre, e gentil como é, me espionar.
domingo, 30 de novembro de 2014
domingo, 9 de novembro de 2014
Holometábolo
Por entre buracos de minhoca no tempo, sou isso.
Isso que não tem a definição própria e flutua, gás inútil
Indefinição, singularidade, isso complexo.
Eu, meta-morfo, processo e dia por dia, hora.
Holometábolo-me:
Cuspido ao mundo, outrora feto. Choro.
Rastejo minha face marcada até a não-vida
Outrora vida, outra hora, não.
E sugo gotículas indefinidas, exauridas. E sorrisos entre a escuridão ali.
Diria que fui embrião, ovo, ovo chocado,
Agora civilização, império, apocalipse.
Torcendo e perfurando o ar que me escapa no choro
O tempo que não existe, o tempo que não conta não conta não conta
Torce, retorce, perfura o nada que se vive, vivo e percebo, enfim,
Não sou mais o que fui e o que hei, mas agora mar de lama, no brinco.
Como areia e grama, beijo cachorros de rua, pulo corda e bato no amigo.
E anseio por algo inevitável. Eu.
Me enrolo todo em mim para acordar trinta e três anos depois.
Imago.
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